Homilias

sábado, 12 de junho de 2010

XI DOMINGO DO TEMPO COMUM

( Lc 7, 36 - 50 )

"E rogou-lhe um dos fariseus que comesse com ele; e, entrando em casa do fariseu, assentou-se à mesa.
E eis que uma mulher da cidade, uma pecadora, sabendo que ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com perfume;
E, estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-lhos com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés, e ungia-lhos com o perfume.
Quando isto viu o fariseu que o tinha convidado, falava consigo, dizendo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é uma pecadora.
E respondendo, Jesus disse-lhe: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. E ele disse: Dize-a, Mestre.
Um certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários, e outro cinqüenta.

E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois, qual deles o amará mais?
E Simão, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: Julgaste bem.
E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta regou-me os pés com lágrimas, e mos enxugou com os seus cabelos.
Não me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, não tem cessado de me beijar os pés.
Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com perfume.
Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama.
E disse-lhe a ela: Os teus pecados te são perdoados.
E os que estavam à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este, que até perdoa pecados?
E disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz".


1. "Um fariseu convidou Jesus para uma refeição em sua casa. Jesus entrou na casa do fariseu e pôs-se à mesa".
Ora, isso nos deve lembrar que nunca devemos recusar a um convite para estar com as pessoas; jogar fora uma oportunidade de conviver com os outros, de sentar-nos à mesa com eles, ampliar nossos relacionamentos e, sobretudo, partilhar uma refeição: um almoço, um jantar, um lanche ou um café, que seja. Afinal, a mesa não é apenas um utensílio doméstico que serve para acomodar-nos a nós e aos nossos pratos. Ela é, principalmente, um lugar de encontro, de troca, de diálogo, de partilha e convivência. Inclusive, muitas vezes, numa mesa, se alimenta muito mais o espírito do que o corpo. Como dizia Jesus: "nem só de pão vive o homem". Aliás, a dispersão e o esvaziamento das mesas das nossas casas, são coisas bastante representativas da dispersão e esvaziamento que vivem nossas famílias, no mundo atual.
Depois, o fato de Jesus ter aceitado o convite daquele fariseu, revela-nos a importância que dá às pessoas no todo e a cada uma delas em particular. Afinal de contas, cada ser humano é uma exclusividade, um milagre vivo, um ser único e um segredo a ser desvendado. Logo, devemos, também nós, aproveitar ao máximo, toda e qualquer ocasião de encontro que tivermos com as pessoas e, mais do que isso, devemos, sempre que possível, tomar a iniciativa de tais encontros, na qualidade de seus protagonistas. Cada pessoa que encontramos representa uma oportunidade de crescimento na vida. Assim sendo, temos diante de nós, mais de seis bilhões de oportunidades de crescimento.
Por exemplo, nas viagens que empreendermos, vale a pena focar toda a nossa atenção nas pessoas dos lugares para onde formos; não apenas em prédios, monumentos, ruas, paisagens e museus. São as pessoas, antes de qualquer outra coisa, o que de mais interessante podemos conhecer em qualquer lugar do mundo a que cheguemos, desde as terras mais distantes às calçadas do nosso vizinho ao lado.
É bem verdade que estamos sozinhos na nossa unicidade e irrepetibilidade, mas os outros são indispensáveis para podermos crescer, para nos confrontarmos com eles, para aprendermos a partilhar. E, mais ainda, as pessoas que encontramos na vida constituem um significado particular e vital, de guia e orientação, de um sentido formativo, essencial e pessoal; inclusive, aquelas pessoas de quem não gostamos, que nos desagradam e nos causam problemas. Elas, também, tornam-se parte integrante do significado que damos a nós mesmos e à nossa existência.
Portanto, podemos dizer que precisamos das pessoas exatamente como elas são e do jeito com que se apresentam para nós, na sua expressão mais diversa. Cada uma delas nos provoca de uma forma bem distinta e exige de nós uma reação diferente na vida. E são essas nossas reações, nossas respostas, atitudes e pensamentos frente aos problemas provocados pelos outros, que nos irão mostrar e revelar a nossa verdadeira personalidade e, por fim, nos dirão quem somos nós, de verdade. Logo, os problemas que as pessoas nos suscitam, são, na realidade, sinais e provas, através das quais exercemos o nosso único e verdadeiro poder, o poder de enfrentá-los. Somente vivendo os problemas com os quais nos deparamos, é que vamos formando e assumindo a dignidade de ser pessoas. Pessoas, e não vítimas.
CONTINUA...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

X DOMINGO DO TEMPO COMUM
( Lc 7, 11-17 )
"Naquele tempo, dirigia-Se Jesus para uma cidade chamada Naim; iam com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. Quando chegou à porta da cidade, levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva. Vinha com ela muita gente da cidade. Ao vê-la, o Senhor compadeceu-Se dela e disse-lhe: «Não chores». Jesus aproximou-Se e tocou no caixão; e os que o transportavam pararam. Disse Jesus: «Jovem, Eu te ordeno: levanta-te». O morto sentou-se e começou a falar; e Jesus entregou-o à sua mãe. Todos se encheram de temor e davam glória a Deus, dizendo: «Apareceu no meio de nós um grande profeta; Deus visitou o seu povo». E a fama deste acontecimento espalhou-se por toda a Judeia e pelas regiões vizinhas."
No evangelho deste domingo, Jesus devolve a vida a uma pessoa que traz consigo algumas particularidades: é jovem, filho único e sua mãe é viúva. São detalhes que precisam ser levados em consideração quando buscamos construir a mensagem desse texto para nossas vidas. Afinal, a história de cada um de nós é sempre feita de detalhes, de pormenores, de coisas aparentemente insignificantes que, entretanto, não podem deixar de ser vistas com a melhor das atenções, sob pena de perdermos a própria vida.
1. Primeiro, ao devolver a vida a um jovem (alguém de pouca idade), Jesus parece nos dizer que, apesar de sermos todos igualmente vulneráveis, independentemente da idade que temos, e de podermos morrer a qualquer momento, a vida foi feita para ser plenamente vivida. E, aqui, neste 'plenamente', inclui-se, não apenas a dimensão da qualidade e intensidade com que se deve viver cada momento da vida; mas, também, da necessidade de prolongá-la o mais possível, quantitativamente falando, no tempo e no espaço. Aliás, a quantidade não está e, jamais esteve, necessariamente, do lado oposto da qualidade e vice-versa. Como se uma, para existir, tivesse que dispensar a presença da outra; ou, como se a outra fosse, naturalmente, um obstáculo à primeira. As coisas não são bem assim; não devemos criar oposição onde não há oposição. É bem verdade que sempre devemos fazer as coisas que fazemos com a máxima qualidade com que possam ser feitas. Todavia, é igualmente verdadeiro e desejável que possamos estender essa qualidade à maior quantidade possível de coisas que realizamos e, preferentemente, no maior espaço de tempo que possamos alcançar. Assim sendo, qualidade e quantidade, apresentam-se, para nós, como valores complementares, e não, como realidades opostas. Uma não necessita, obrigatoriamente, da outra. Mas, nós necessitamos de ambas.
É nessa perspectiva que os orientais nos dizem que, se por um lado, o fato mais importante da existência de um ser humano é a sua morte, o coroamento, por assim dizer, de toda uma caminhada; por outro lado, dizem-nos também, que nada de mais lamentável pode acontecer a alguém, do que morrer jovem, ou seja, do que não ter construído ainda, propriamente, uma caminhada para coroar. (Particularmente, já perdi pai e mãe. Sofri muito com a morte deles. Porém, nada comparável à dor que experimentei quando da morte do meu irmão, mais novo do que eu, com apenas quarenta anos de idade, vítima de acidente automobilístico. A sensação não é outra, senão, a de que a vida foi tirada quando ainda queria ficar e, pior do que isso, quando ainda precisava ficar e poderia ter ficado. Bastava, quem sabe, um pouco mais de atenção e cuidado).
Desse modo e, - naturalmente, sem querer tirar da vida e da morte, o mistério que lhes é próprio - ao trazer um jovem de volta à vida, Jesus coloca as coisas nos seus devidos lugares, resgata a lógica natural do viver e do morrer e nos ajuda a compreender, de uma vez por todas, o quanto é importante saber viver plenamente, utilizando-nos ao máximo dos potenciais do tempo e do espaço, como aliados importantíssimos no cumprimento da nossa missão de bem viver. Isto significa que devemos procurar fazer de cada momento da nossa vida, um momento de felicidade. Mas, significa, também, que devemos nos empenhar para que essa felicidade de cada momento, nos possa acompanhar por muitos e longos anos. E, assim, poderemos unir o útil ao agradável, a quantidade à qualidade, o pequeno ao grande, o tempo à eternidade.
2. Em segundo lugar, o fato do destinatário do milagre desse evangelho tratar-se de um filho único, vem confirmar, na pessoa de Jesus, a importância de se preservar a família, como valor fundamental para toda a humanidade. Um valor que ultrapassa, naturalmente, toda e qualquer dimensão que se queira meramente religiosa. Ou seja, a partir do instante que se dá o milagre, aquela mãe, mesmo já tendo perdido seu marido, volta a gozar da presença viva do filho e, precisamente por isto, volta a viver em família. Ora, quando homem e mulher se casam, formam um casal. E, graças a Deus, temos muitos, bons e exemplares casais. Porém, somente quando um casal gera filhos, é que se configura, na prática, a existência de uma família, no sentido verdadeiro do termo. Acontece que, no mundo de hoje, há cada vez menos famílias, ainda que o número de casais esteja sempre em ascendência. Por exemplo, na Europa, a grande maioria dos novos casais, tem optado, deliberadamente, por não ter filhos; e os que fazem diferente, se decidem, quando muito, por um ou dois filhos, ainda que reúnam todas as condições necessárias para o bom sustento de uma família maior. E esta tem sido a tendência mundial, verificada com maior ou menor frequência, em todos os países. O resultado disto já estamos vendo: uma sociedade cada vez mais envelhecida, triste, sem crianças e sem perspectivas de futuro. Em outras palavras, uma humanidade em vias de extinção.
Vale ressaltar que não estamos, aqui, fazendo apologia daquela idéia do sexo no casamento somente com finalidade de procriação ou coisa do gênero. E, nem de longe, somos favoráveis a uma natalidade a qualquer custo, muitas vezes, fruto de uma atitude irresponsável, que põe crianças inocentes no mundo, sem lhes dar as condições, sequer de sobrevivência. A realidade se apresenta muito mais grave. O que estamos vendo hoje é uma quantidade exorbitante de casais cristãos (para não falar dos outros) que se utilizam do sexo e do casamento, única e exclusivamente, para seu próprio prazer, bem estar pessoal e comodidade de vida, enquanto casal; uma atitude extremamente egoísta que, por si mesma, constitui-se em radical negação dos valores essenciais da família; valores estes, os quais prometeram defender diante do altar, no momento em que contraíram o matrimônio. Ora, se é assim que vivenciamos o nosso matrimônio cristão, que argumentos possuímos para criticar aqueles que defendem o casamento entre pessoas do mesmo sexo?
3. Em terceiro lugar, a mãe do jovem a quem Jesus devolve a vida, é uma viúva. Ora, no Antigo Testamento, o órfão, o estrangeiro e a viúva eram, exatamente, as categorias de pessoas citadas, quando se queria falar dos pobres. Os profetas não se cansavam de anunciar que a religião que agradava verdadeiramente a Deus, era fazer justiça ao órfão, à viúva e ao estrangeiro. A viúva é, portanto, nessa perspectiva, juntamente com o órfão e o estrangeiro, a expressão maior da pobreza, do desamparo, da solidão, da carência, da fragilidade... enfim, de tudo aquilo que reclama por mudança e por melhores dias.
Jesus, indo ao encontro desta viúva e socorrendo-a prontamente, confirma sua opção preferencial pelos pobres e sofredores do mundo. Não que eles sejam melhores do que os outros, mas, simplesmente, por serem mais carentes e desprovidos das condições e meios humanos mais elementares para viver com dignidade. Na verdade, toda a Sagrada Escritura, do princípio ao fim, apresenta o Reino de Deus como pertencente a duas classes de pessoas: os pobres e os amigos dos pobres; ou seja, aqueles que, mesmo não sendo pobres, fazem da causa destes, as suas próprias causas e sabem ser solidários a eles. Aliás, só vale a pena ter alguma coisa, se somos capazes de colocar a serviço de quem não tem e, dessa forma, contribuir para melhorar o mundo. Do contrário, a riqueza pela riqueza, apenas satisfaz a nossa vaidade, alimenta nossa ilusão e confirma nossa ignorância sobre a vida. Então, podemos dizer que a opção de Deus é, preferencialmente, pelos pobres e, fundamentalmente, contra a pobreza; pobreza esta, aqui entendida enquanto carência dos recursos minimamente necessários para se ter uma vida digna.
Na verdade, não está no desejo de Deus, um mundo de ricos e pobres; menos ainda, de ricos cada vez mais ricos às custas de pobres cada vez mais pobres. Tanto a pobreza extrema quanto a riqueza sem limites, são desumanas e desumanizantes, fazendo vítimas em ambos os lados: a uns, pela falta e, a outros, pelo excesso. É imprescindível que os pobres saiam da sua condição de carência e que os ricos desçam do seu pedestal de auto-suficiência, a fim de que possam viver verdadeiramente como irmãos.
Alguém já dizia: "quando um rico dá ao pobre, não é partilha, é devolução; e quando um pobre dá ao rico, também não é partilha, é servidão. A partilha só acontece entre seres humanos que se sabem irmãos". Portanto, é urgente que recuperemos a nossa consciência de irmãos que somos e procuremos viver como tais. Nesse sentido, todos devemos concordar que há, naturalmente, diante de nós, um longo e difícil caminho a ser percorrido. Que Deus nos ajude!

terça-feira, 1 de junho de 2010

FESTA DO CORPO E SANGUE DE CRISTO
(Lc 9, 11b-17)
A festa de hoje é uma ótima oportunidade para se refletir sobre o Sagrado Mistério da Eucaristia, ou seja, a presença de Jesus Cristo nas espécies do pão e do vinho consagrados. Talvez, seja esta a festa mais católica das católicas, uma vez que celebra uma das verdades mais peculiares da fé da nossa igreja. Permitam-me, portanto, chamar a atenção de todos para um e, somente um, aspecto importante, dentre tantos outros que podem e devem ser considerados:
Trata-se da necessidade imperiosa de sabermos que a Eucaristia não é, simplesmente, a celebração de um acontecimento memorável, ou uma representação puramente simbólica da última ceia de Cristo com seus discípulos ou, menos ainda, uma espécie de encenação teatral para retratar esse conhecido evento bíblico. Escrevo isto, por saber que é deste modo que muitos falam da Eucaristia e assim a interpretam, sobretudo, no âmbito das diversas igrejas cristãs, protestantes e evangélicas. Ora, para nós católicos, com o devido respeito aos irmãos de outras denominações, não deve haver margem para qualquer dúvida quanto a este assunto. Em se tratando da Eucaristia, acreditamos piamente na presença real, viva e verdadeira de Jesus Cristo, seu Corpo e seu Sangue, sob as espécies do pão e do vinho consagrados, todas as vezes que se celebra uma missa. Sabemos, ainda, que é esta a maior herança espiritual que possuímos, motivo de grande alegria e esperança para todos nós.
Ademais, este não é, definitivamente, um assunto decidido, para o sim ou para o não, por uma vontade meramente humana. Não são os ministros de um lado e outro destas igrejas que vão estabelecer quem está certo ou errado sobre esse tema. Aliás, se assim o fosse, argumento por argumento, existem às pampas, de parte a parte e, diga-se de passagem, todos muito interessantes e bastante convincentes. Do lado da Igreja católica, tampouco, estamos diante de uma verdade criada e proclamada pela força e autoridade dos papas, bispos ou teólogos.
Em realidade, é o próprio Deus quem se encarrega, pessoalmente, de dirimir toda e qualquer dúvida a respeito da Eucaristia, através de numerosos e incontestáveis Milagres Eucarísticos, observados ao longo da história. Afinal, sabe-se, hoje, que o Milagre é o único argumento necessário e suficiente; uma autêntica 'prova dos nove', diante da qual os argumentos se desfazem. Eis alguns deles (que podem, inclusive, ser pesquisados na internet):
a) Lanciano - Itália, ano 700: Um monge basiliano tinha dúvidas sobre a Eucaristia. Enquanto celebrava, no momento da elevação, o pão se transforma em carne e o vinho em sangue. Após mil e trezentos anos, todas as análises do material confirmam que a carne é carne humana, do músculo cardíaco; e que o sangue é do mesmo grupo sanguíneo da carne, tipo AB; o mesmo encontrado nas partículas de sangue do Sudário de Turim (tipo sanguíneo da maioria do povo judeu). O sangue coagulou-se e mantém-se conservado, juntamente com a carne, por quase treze séculos, até hoje, sem uso de qualquer produto químico.
b) Santarém - Portugal, ano 1247: Uma senhora leva uma partícula consagrada, que não comungou, propositadamente, para que uma bruxa fizesse um feitiço que pudesse mudar a conduta devassa do seu esposo. A hóstia sangrou e manchou o seu vestido, enquanto caminhava para sua casa. Lá chegando, envolveu-a numa toalha branca e a guardou num baú, no seu quarto. A hóstia passou a noite inteira produzindo uma radiação luminosa que clareava toda a casa. Atualmente, aquela casa é uma igreja diocesana muitíssimo visitada por peregrinos de todo o mundo.
c) Regensburg - Alemanha, ano 1257: As mãos de um crucifixo em cima de um altar, puxam a hóstia consagrada das mãos de um sacerdote que, reconhecidamente, duvidava da Eucaristia. Tornou-se a Capela da Cruz e fica, hoje, na Bavária.
d) Seefeld - Austria, ano 1384: O guardião de um castelo, chamado Knight Milser, exigiu, pelo poder das armas, que o sacerdote celebrante lhe desse a hóstia grande para comungar. Quando nela tocou, o chão se partiu sob seus pés e ele afundou até os joelhos. Implorou ao sacerdote que retirasse a hóstia da sua boca, pois estava sufocado. O padre assim o fez e, só então, o chão voltou ao normal. Em 1984, na Igreja de São Osvaldo, celebraram-se os seiscentos anos desse milagre.
e) Faverney - França, ano 1600: Na Igreja de N. Sra. de la Blanche, houve um incêncio. A única peça que não se deixou consumir pelo fogo, foi um ostensório que estava no altar, com o Santíssimo Sacramento exposto. Elevou-se e ficou suspenso por cerca de trinta e três horas.
É sempre bom dizer que todos estes Milagres aqui apresentados, resumidamente, e outros tantos similares espalhados pelo mundo inteiro, foram testemunhados por centenas de pessoas, as quais deixaram oficialmente firmado, tudo o que viram e ouviram, nas dadas ocasiões. Além de que, trata-se de relatos históricos passíveis de investigação e estudo por quem se interessar possa.
Estes relatos e tantos outros que poderíamos aqui apresentar, nos permitem concluir sobre o quanto nós católicos somos muitíssimo privilegiados, uma vez que, em cada missa, podemos presenciar, pessoalmente, a realização de um milagre verdadeiro, o qual converte pão e vinho em Corpo e Sangue de Cristo, trazendo Deus para bem perto de nós e, sobretudo, após a comunhão, levando-O ao lugar onde Ele sempre quis estar e de onde nunca quis sair: dentro de cada um.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINTADE

(Jo 16,12-15)


Para muito além da narrativa do evangelho de hoje e das diversas possibilidades interpretativas que ele nos possa oferecer, somos desafiados a refletir sobre uma verdade contundente da nossa fé, que nos interpela a todos, continuamente. Trata-se do dogma da Santíssima Trindade. Definitivamente, este não é um tema fácil de ser abordado e de ser compreendido, pelo menos, no que toca à nossa inteligência racional. Todavia, acredito que, se formos capazes de deixar de lado a nossa tentação de buscar sempre o "por quê" de tudo e, diferentemente, focar nossa atenção no "para quê", com certeza poderemos enxergar uma dimensão marcadamente pedagógica e enormemente instrutiva, na festa da trindade que hoje celebramos. Nessa perspectiva, a trindade nos faz 3 apelos fundamentais, quais sejam:
1º) O apelo da integração, da comunhão, da unidade: São três pessoas distintas, numa única natureza divina, revelando-nos que Deus é comunidade.
Isso nos aponta para as conclusões a que muitos estudiosos e pesquisadores acerca do ser humano, já nos disseram, nesses últimos tempos: "O maior desejo do homem, quer ele saiba ou não, é o desejo de unidade, de comunhão, de integração". Afinal, fomos feitos não apenas para viver, e sim, para conviver; não somos auto-suficientes e necessitamos, o tempo inteiro, do complemento uns dos outros, da troca, da convivência, da interação. E esta dimensão comunitária da vida humana vê-se reforçada radicalmente na imagem da trindade, à medida que o nosso Deus faz-se três em um só. Este é um forte apelo à consciência da inseparatividade. Não somos separados de nada e de ninguém. Na vida, tudo está relacionado com tudo e todos com todos, de tal forma que, se não estivermos atentos a isto, poderemos colocar tudo a perder, uma vez que já está mais do que provado que é impossível a alguém ser feliz sozinho.
Sendo assim, resta-nos observar as diversas etapas que se fazem necessárias para que alcancemos este ideal de unidade tão almejado. Vejamos:
Primeiro, devemos buscar construir unidade conosco, de cada um para consigo mesmo. Trata-se de fazermos as nossas "bodas internas"; reconhecer as nossas múltiplas dimensões e procurar integrá-las; desenvolver os nossos muitos potenciais e, ao mesmo tempo, reconhecer os nossos limites, aceitando-os e aprendendo a conviver com eles. Trata-se, também, de acolher o que se encontra em conflito dentro de nós: pensamentos, sentimentos, desejos, tensões, etc. Enfim, fazer as pazes com as nossas imperfeições.
Segundo, devemos buscar construir unidade com o nosso meio-ambiente, ou seja, aprender a cuidar do universo em que habitamos, da nossa casa comum que é o planeta terra. Trata-se de um apelo ecológico profundo e muitíssimo atual. Afinal de contas, nunca a vida na terra esteve tão ameaçada como agora. E as consequências da interferência nociva do homem, no âmbito da natureza, estão aí, cada vez mais graves. Só não vê quem não quer.
Terceiro, devemos construir unidade de cada um de nós com o outro, com as pessoas em geral. Como dizia São Paulo: "Somos membros de um mesmo corpo". Portanto, não há nenhuma razão para nos sentir separados das pessoas e, menos ainda, para viver como se os outros não existissem. Estamos o tempo todo implicados uns nos outros. Aliás, neste particular, não existem dois lados, o meu e o dos outros. Todos os lados são o mesmo lado, são o meu lado. Logo, o que acontece de mau ou de bom a um de nós, mais cedo ou mais tarde, chega a todos nós. Trata-se aqui, da necessidade de cuidarmos bem uns dos outros. Só assim, estaremos cuidando, verdadeiramente, de nós próprios.
Por último, criar unidade com Deus. Trata-se de reconhecer e acolher em nós, a nossa dimensão transcendental, infinita, divina. Afinal, somos maiores e melhores do que somos. Deus é algo que não pode não ser e a consciência dessa verdade é, fundamentalmente, a diferença que pode fazer a diferença em nossas vidas.
2º) O apelo da diferenciação, da distinção, da individualidade: Um Deus que é um, sem deixar de ser três. Quer dizer: uma só natureza divina, sem deixar de ser três pessoas distintas.
Eis, aqui, o grande desafio da vida humana: viver a comunhão, sem perder a individualidade; viver o que é de todos, sem deixar o que é nosso, o específico de cada pessoa. Aliás, somos todos únicos e exclusivos. Não há ninguém igual a ninguém. Portanto, neste particular, não temos o direito, nem o dever, de copiar quem quer que seja. Deus nos fez irrepetíveis e, neste prisma, insubstituíveis. Assim, quanto mais diferentes formos, mais iguais e mais parecidos nos tornamos e, desse modo, mais fiéis à nossa vocação original. Cada um de nós tem um caminho a seguir, uma palavra a dizer, uma tarefa a realizar, uma missão a cumprir. E isto, nenhuma outra pessoa poderá fazer em nosso lugar, por mais que nos seja próxima e esteja intimamente ligada a nós.
Trocando em miúdos, este é, por exemplo, um dos maiores desafios que se apresentam para o casamento, na atualidade: não permitir que a união do casal anule a dimensão individual dos respectivos cônjuges. Se isto acontece, mais cedo ou mais tarde, a relação se torna insustentável. Em outras palavras, o desafio para ambas as partes, é aprender a ser para o outro, sem deixar de ser para si mesmo. Inclusive, o amor ao outro é sempre a capacidade real de aceitá-lo na sua diferença, naquilo que é o seu específico, na sua individualidade. Ao contrário, se amo uma pessoa pelo fato dela ser para mim, tão somente, o que quero e espero dela, na verdade, amo a mim mesmo e a mais ninguém. Aliás, na sociedade atual, cada vez menos, as pessoas estão dispostas a sacrificar sua vida pessoal. E este é um dos aspectos positivos dos nossos tempos: o resgate da individualidade (diferente do individualismo, que é, por assim dizer, a patologia da individualidade). Trata-se, em suma, da arte de saber unir e separar, identificar e desidentificar, entregar e resgatar, ir e voltar, em tudo na vida.
Ainda, seguindo este raciocínio, num nível mais abrangente, este é, também, o maior drama dos países que adotaram o totalitarismo de Estado (China, Coreia do Norte, Cuba...). Em todos eles, salvaguardando as especificidades de cada um, não há espaço para o desenvolvimento da subjetividade, da diferença. O Estado, via de regra, é quem decide como as pessoas devem viver, o que devem fazer e, às vezes, até mesmo, o que devem vestir e comer. Por esse pecado, creio eu, é que todos os regimes totalitários ainda existentes, encontram-se, irremediavelmente, condenados ao fracasso.
3º) O apelo da amplitude, da evolução e dinamicidade da vida: Um Deus que é, simultaneamente, três pessoas distintas, sem deixar de sê-lo, concretamente situado, em cada momento da história.
A trindade nos ensina que o nosso Deus é um Deus que evolui no tempo e no espaço. Ou seja, Ele sabe ser Deus para cada momento distinto da história do mundo e dos homens. Assim, quando o mundo precisa de um Deus-Pai-Criador, Ele se apresenta como tal; quando o mundo necessita de um Deus-Filho-Redentor, lá está Ele, em carne e osso, na pessoa de Jesus Cristo. E, por fim, quando necessitamos da sua presença permanente em nós, na qualidade de um Deus-Espírito-Consolador, Ele nos oferece o seu Espírito Santo. Nessa perspectiva, a trindade apresenta-se para nós como um Deus dinâmico, que evolui na nossa evolução; atento à caminhada do seu povo e sempre capaz de responder com indiscutível atualidade, aos atuais desafios da história como um todo, e às circunstâncias bem concretas de cada ser humano, em particular.
Creio que, a partir disto, podemos deduzir que a existência trinitária de Deus é, para todos nós, certeza e garantia da sua presença contínua em nossas vidas, respeitando-nos e acolhendo-nos, incondicionalmente, do jeito que somos e nas diferentes circunstâncias que nos acompanham a cada instante, sejam elas boas ou ruíns, positivas ou negativas, divinas ou diabólicas. Nada disso importa. Deus é Deus e pronto: a presença mais antiga no universo e, ao mesmo tempo, a mais recente de todas as presenças, 'novinha em folha'. Um Deus que sempre soube ser diferente (trinitário) e, isto, talvez, com o único propósito de nos acolher, amorosa e inteiramente, nas nossas diferenças. Portanto, nesta imensa grandeza trinitária de Deus, cabemos todos nós, com tudo que temos e em tudo que somos, ontem, hoje e sempre. Quando caminhamos e quando paramos, quando acertamos e quando erramos, quando brilhamos e quando fracassamos... não importa o que nos aconteça agora ou o que nos tenha acontecido no passado. Importa-nos saber, simplesmente, que Ele está aqui e lá.