sexta-feira, 12 de junho de 2009

XI DOMINGO DO TEMPO COMUM (Mc 4, 26-34)

1. "O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra". Isto significa que a nossa primeira tarefa na vida, como seres humanos e como cristãos, é semear, agir e agir com autonomia, de forma não-dependente. Afinal, não é justo que nos tornemos reféns da vontade dos outros. Isto equivale a dizer que o Reino de Deus acontece em nossas vidas quando deixamos de viver para dar satisfação aos outros ou cumprir expectativas alheias. Devemos agir e viver por nós mesmos, pela nossa consciência, por nossa própria motivação. Todavia, é sempre bom lembrar que isto não é nada fácil, pois o que mais buscamos na vida, em geral, é a aprovação dos outros, a aceitação pública, o reconhecimento, etc., nem que para isto sejamos obrigados a sacrificar os nossos valores, princípios e nossa própria consciência. Como é difícil aceitar não ser aceito; assimilar uma crítica, uma reprovação, um comentário desfavorável, um ambiente hostil, etc. Precisamos de muito esforço, exercício e dedicação para que não nos desviemos do nosso eixo, da nossa verdade.
2. Por outro lado, agir incondicionalmente significa tomar consciência de que os primeiros destinatários do que fazemos, somos nós mesmos. Ou seja, existe uma pessoa, que é a minha pessoa, antes de qualquer outra pessoa. Logo, tudo o que fazemos aos outros, o recebemos primeiro. E isto se aplica tanto em relação a atitudes positivas quanto a negativas. Por exemplo, quando temos raiva, recebemos raiva; quando sentimos amor, recebemos amor. Muitas vezes, o que desejamos ou fazemos, direcionado aos outros, nem mesmo chega ao destino almejado; entretanto, nunca deixa de atingir-nos a nós.
3. Agir incondicionalmente, significa, ainda, saber que toda boa ação é completa em si mesma, prescinde de qualquer resultado ou da necessidade de uma resposta, de um reconhecimento, de uma reação. Isto é, quando eu planto, eu já colho. Meu pai, por exemplo, era agricultor e ao chegar o tempo do plantio, ele sempre plantava, com a terra molhada ou seca. Isto porque, plantar, para ele, era uma satisfação; e colher, quando havia colheita, era outra satisfação.
4. Agir incondicionalmente é, também, desprender-se dos resultados. Aliás, os resultados daquilo que fazemos nunca dependem de nós; não temos nenhum domínio neste campo. A única coisa que controlamos, ainda que de modo relativo, é a nossa atitude pessoal. Por isso, em tudo na vida, devemos sempre fazer a nossa parte, da melhor forma possível, e acreditar que os outros farão a parte deles e que os resultados, mais cedo ou mais tarde, aparecerão como consequência natural da nossa motivação e entrega ao que fizemos. Afinal de contas, quando agimos, sempre despertamos a ação dos outros e, se a ação é boa, naturalmente, despertamos a bondade no agir alheio.
5. Agir incondicionalmente é semear sem esperar ou exigir as condições ideais do terreno no qual semeamos. O que acontece, boa parte das vezes, é que ficamos aguardando um tempo e um ambiente totalmente favoráveis para fazer o que temos de fazer. Ora, isto, definitivamente, não existe. Precisamos aprender a trabalhar com o que temos, com o que está em nossas mãos, com a realidade possível. Esta é a única existente; o resto é abstração e nada mais. Portanto, a ordem é: começar já. Afinal, só poderemos aperfeiçoar aquilo que iniciamos. Logo, só nos resta iniciar agora mesmo.
6. "O Reino de Deus é como um grão de mostarda". Isto nos quer indicar o grande valor que existe nas `pequenas coisas, nos acontecimentos do cotidiano e nas pessoas simples. No fundo, a parábola da semente de mostarda é um convite a que retornemos à simplicidade de outrora, quando éramos todos felizes e não sabíamos. Trata-se de mudarmos os nossos referenciais de valor, nossos paradigmas, para sabermos que a felicidade não consiste em se ter algo diferente daquilo que se tem ou em adquirir sempre mais coisas, somando-as às muitas já possuídas. Pelo contrário, o ser humano feliz de verdade é aquele que pode prescindir do mais possível. Assim, o grão de mostarda a que se compara o Reino de Deus, convida-nos e desafia-nos a diminuir os nossos desejos, enxugá-los ao máximo e adequá-los às nossas reais necessidades. Este é, quem sabe, o único caminho que pode levar uma real quietude ao coração humano. O contrário, poderá ser insuportável para o mundo.
Na prática, por exemplo, diante da tentação do consumo desenfreado de bens, da mania de comprar por comprar e do hábito de acumular coisas sobre coisas, podemos sempre nos perguntar, antes de qualquer compra que desejemos fazer: eu necessito mesmo disto ou apenas quero isto? Ora, se formos honestos e levarmos a resposta à sério, logo perceberemos que precisamos de muito pouco para viver com felicidade e com plenitude. E, mais do que isto, tomaremos consciência de que o pouco de que precisamos, já temos conosco.