quinta-feira, 16 de julho de 2009

XVI DOMINGO COMUM (Mc 6, 30-34)

1. Mais uma vez, o evangelho começa e termina falando de ensinamento: primeiro, dos apóstolos; depois, de Jesus. Isto nos indica, claramente, que a nossa missão neste mundo é ensinar. E isto não é nenhuma presunção, pois só ensina verdadeiramente quem, antes, foi capaz de aprender. Portanto, estamos aqui para aprender, com tudo e com todos. O mundo é a nossa escola, as pessoas são nossos mestres e os acontecimentos que nos envolvem são o conteúdo programático dessa aprendizagem.
2. Neste sentido, é fundamental a gente saber que tudo na vida tem um propósito, uma razão de ser, um sentido; mesmo as coisas dolorosas, ruíns ou aparentemente absurdas. Podemos não conhecer, mas também nelas existe um propósito, uma lição a ser dada, uma mensagem que se revela. Sendo assim, quem deseja viver bem e com sabedoria, precisa ter uma postura aberta e acolhedora da vida como ela é; precisa aceitar que não temos o controle sobre nada; que o que nos vai acontecer hoje ou amanhã, não depende de nós. Por exemplo, quem dentre nós pode estar livre de um acidente, de um raio, de uma perseguição, de uma tragédia natural, de uma inveja, ciúme ou intriga, de um alimento contaminado ou de um descuido qualquer?
3. Nesta linha de raciocínio, podemos e devemos mudar a nossa postura frente aos acontecimentos. Quem sabe, ao invés de perguntarmos: por que isso foi acontecer comigo? Passemos a perguntar: o que este acontecimento está tentanto me ensinar? Com certeza, esta nova postura interior nos ajudará a que fiquemos menos aborrecidos, menos incomodados e mais conformados com a vida e, acima de tudo, nos fará crescer como seres humanos. Logo veremos que aquilo que nos acontece de ruím não é o mais importante. O que importa, de verdade, é o que fazemos com aquilo que nos acontece. Assim, por exemplo, para uma pessoa desatenta, a morte de uma lagarta é só mais a morte de um bichinho. Entretanto, para quem está mais atento, a morte de uma lagarta é o nascimento de uma borboleta. E isto vale, igualmente, para a perda de um emprego, o fracasso de um casamento, a morte de um ente querido, etc.
4. Em outras palavras, devemos aprender a lançar um olhar positivo sobre todas as coisas da vida, inclusive, sobre as que parecem negativas, absurdas ou inaceitáveis. Elas também têm o seu lugar ao sol. Trata-se, aqui, de transformar tudo numa oportunidade de crescimento, de testemunho de fé, de mostrar quem somos de fato. Aliás, não se conhece uma pessoa antes que o sofrimento tenha batido à sua porta. É muito fácil ser equilibrado quando tudo está equilibrado. Porém, nossa real identidade só se revela nas tribulações e no sofrimento.
5. Todavia, só teremos condições de enfrentar serenamente os sofrimentos da vida, preparando-nos para eles, de preferência, antes que cheguem até nós, pois não sabemos o dia nem a hora. Como já dizia um grande sábio: "a felicidade nunca está ao alcance dos despreparados". Ou, no dizer de um outro: "a sorte é quando o preparo encontra a oportunidade". E, aqui pra nós, sempre haverá uma oportunidade para quem se prepara.
6. O evangelho continua dizendo que havia tanta gente chegando e saindo que os apóstolos não tinham tempo nem para comer. Este é, de fato, um retrato fiel da nossa vida hoje. Somos caracterizados pela correria, a pressa e a falta de tempo. O curioso é que corremos para ter mais tempo e, ainda assim, não o temos. É como aquela estória do piloto de avião que disse aos seus passageiros: "senhoras e senhores, tenho duas notícias para lhes dar. A primeira é que, neste exato momento, perdemos o contato com a terra e não sabemos onde estamos e nem para onde vamos; a segunda é a notícia boa: a aeronave está em perfeitas condições e estamos voando à toda velocidade". Isto seria cômico se não fosse trágico.
7. Assim somos nós: sempre correndo. Corremos para chegar num dado lugar, depois corremos para voltar de lá. Ou seja, nunca estamos plenamente em lugar algum, por um breve momento que seja. Estamos o tempo todo em trânsito. O pior, ainda, é que quando você vê todo mundo correndo, começa a correr também. Facilmente pegamos os rítmos uns dos outros. E o mais trágico em tudo isto é que quando não precisamos mais correr de forma alguma, num feriado, num dia santo, numas férias ou na aposentadoria, não conseguimos mais parar. Afinal, depois de tantos anos de correria, torna-se praticamente impossível livrar-nos dela. Vejam a loucura a que chegamos.
8. A proposta de Jesus para todos nós é clara: "venham sozinhos para um lugar deserto e afastado e descansem um pouco". É isto o que todos nós necessitamos: dar um basta a essa pressa louca que não nos levará a lugar nenhum. Aliás, muitas vezes, corremos de um lugar a outro, de uma situação a outra; mudamos aqui e ali, ora de emprego, ora de carro, de casa, de esposo ou esposa... porque, no fundo, não temos coragem de mudar a nós mesmos. Neste sentido, já nos dizia o poeta: "não corras, não tenhas pressa. Afinal, aonde tens de ir é somente a ti". A ordem, então, é uma só: parar, reduzir nossas atividades, enxugar nossa agenda, viver mais devagar; perceber que a calma não é incompatível com a eficiência. Ao contrário, a pressa é que nos torna superficiais e frustrados. Pesquisas realizadas nos atestam que a própria inteligência aumenta quando pensamos menos e mais lentamente e que a velocidade com que pensamos é diretamente proporcional ao esquecimento.
9. Conclusão: Se tivermos urgência em fazer algo, a única garantia de que o faremos é fazendo devagar, com calma. Não precisamos nos apressar nem mesmo para buscar a Deus. Não há qualquer necessidade de correr para encontrá-lo. Aprendi que não é aquele que busca apressado que encontra Deus, e sim, aquele que se sente à vontade, em casa no universo, descontraído com a existência, numa atitude de aceitação total e de uma serena interação com tudo e com todos na vida. Aliás, Deus nunca exige que façamos nada, que mudemos nada. Apenas, deseja que sejamos atentos e vigilantes diante de tudo. Tudo o mais virá como consequência natural.
10. Então, a partir de hoje, ao invés de dizermos aos outros, como costumamos dizer: "não fique aí parado, vê se faz alguma coisa", quem sabe, possamos dizer diferentemente: "não fique aí o tempo todo fazendo as coisas, vê se pára um pouco, se aquieta e pergunta o que realmente importa fazer". Afinal, não estamos aqui para fazer muitas coisas. Estamos aqui para não deixar de fazer o essencial. Compreender isto é o grande desafio da vida e o segredo do bem viver.