sexta-feira, 11 de setembro de 2009

XXIV DOMINGO COMUM (Mc 8, 27-35)

1. "Naquele tempo, Jesus partiu com os seus discípulos para as povoações de Cesareia de Filipe".
Vemos que Jesus está sempre partindo. Trata-se de uma espécie de inquietude saudável e salutar, sinônimo de busca, de não comodismo, de abertura e de contínua evolução. Aliás, a lógica nos diz que só poderemos chegar aonde queremos se sairmos de onde estamos. Com certeza, muitas coisas boas deixam de acontecer em nossas vidas, simplesmente, porque não partimos, nos instalamos, nos acomodamos e, com isto, abdicamos do nosso direito à plenitude. Já dizia um profeta dos nossos tempos: "Seja modesto, peça o infinito". Inclusive, no evangelho das bem-aventuranças, a palavra "bem-aventurado" pode ser traduzida como "em marcha", ou seja, avante, em frente, caminhe. Assim sendo, sempre poderemos ser felizes quando nos tornamos capazes de dar um passo a partir do lugar e da situação em que estamos. Por outro lado, a infelicidade não é outra coisa, senão, ficar parados naquilo que nos acontece na vida, sejam coisas boas ou ruíns. Afinal, a realidade é sempre maior do que as circunstâncias, ainda que estas sejam bastante significativas e por demais marcantes. Em outras palavras, por pior ou melhor que estejamos, é sempre possível mudar e, quem sabe, melhorar ainda mais.
2. "No caminho, Jesus perguntou aos discípulos".
Isto é um forte indicativo de que as questões centrais da nossa vida, são formuladas enquanto estamos a caminho, em meio aos nossos passos, em pleno processo do existir humano de cada um de nós. Logo, devemos aprender a valorizar cada etapa da vida, cada passo dado. Para isto, precisamos imprimir sempre mais atenção ao nosso caminhar. Caso contrário, correremos o risco de perder nossa viagem, perdendo-nos de nós mesmos. A sabedoria milenar nos adverte quanto a isto, de modo bastante oportuno, dizendo-nos que a vida é aquilo que nos vai acontecendo enquanto fazemos planos para o futuro; visto que, o futuro é um tempo que pode nunca chegar e, ainda que chegue, é pouquíssimo provável que coincida totalmente com o que dele esperamos. Portanto, é no caminho que percorremos, enquanto o fazemos, que todas as questões da vida nos são colocadas, as mais e as menos importantes, exigindo de nós uma palavra, uma resposta, uma atitude.
3. "Quem dizem os homens que eu sou?... E vós, quem dizeis que eu sou?"
Creio que Jesus, nesta passagem, expressa o seu desejo de que todos nós tenhamos a nossa própria palavra sobre a vida, sobre as coisas, sobre as pessoas, sobre tudo, afinal. Ora, sabemos que a palavra é a expressão da nossa interioridade, ao mesmo tempo que revela a nossa compreensão ou ignorância acerca do que falamos. Assim, em certo sentido, podemos afirmar que a palavra, a nossa palavra, é a única coisa que nos pertence de fato, que é verdadeiramente coisa nossa. Vista sob este ângulo, ou nossa palavra encarna nossas convicções pessoais, ou manifesta convicções alheias. Isto é, ou escolhemos compreender por nós mesmos, ou escolhemos repetir a compreensão dos outros. Aliás, sempre desconfiei que a nossa existência não é outra coisa, senão, a oportunidade que temos de encontrar, a cada instante, a nossa própria palavra sobre tudo e sobre todos; uma chance contínua de passarmos da repetição à convicção. Tarefa esta, não tão fácil, todavia, imprescindível; pois, se não temos convicções, facilmente podemos inverter valores, relativizar o absoluto e absolutizar o relativo, dando demasiada importância ao que pouco ou nada vale, em detrimento daquilo que realmente importa. Por outro lado, ao repreender a Pedro, dizendo: "Longe de mim, satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens", Jesus nos diz claramente que não é suficiente termos uma palavra qualquer sobre a realidade. Nossa palavra precisa ter qualidade e expressar, obrigatoriamente, a verdade do que falamos. Do contrário, nada feito. Melhor que fiquemos calados.
4. "Jesus ordenou-lhes severamente que não falassem dele a ninguém".
Sempre me interroguei sobre o significado desta recomendação feita por Jesus aos seus discípulos, repetidas vezes no evangelho, proibindo-lhes de falar aos outros sobre a sua pessoa. Qual o verdadeiro motivo de tal proibição? A minha conclusão, ainda que as verdadeiras razões sempre escapem ao nosso domínio, é que Jesus fazia isto, simplesmente, para permitir que cada pessoa pudesse encontrar e formar suas convicções a partir dela própria, como fruto da sua busca e experiência pessoal, sem a interferência, apriori, de opiniões ou de experiências dos outros. Afinal de contas, as verdadeiras convicções nunca se copiam, se impõem ou se obrigam. No máximo, podem ser facilitadas ou despertadas. O resto do processo tem de ser feito, necessariamente, pelo aprendiz, por quem se coloca no caminho e se dispõe a caminhar.