sábado, 16 de maio de 2009

VI DOMINGO DA PÁSCOA (Jo 15,9-17)

1. O texto do evangelho de João repete por nove vezes a palavra amor. Vejo, portanto, nesta particularidade, uma indicação mais do que suficiente para fazer-nos refletir sobre este tema e toda a realidade que o envolve. A questão básica é: o que é o amor? O que é amar? Trata-se, aqui, de esclarecermos, à luz da palavra de Deus, a nossa compreensão acerca do amor, a fim de que evitemos o risco de amar de qualquer jeito, pois, ao contrário do que se prega por aí, não é qualquer forma de amor que vale a pena. Precisamos fazer a coisa certa do modo certo. E, neste sentido, nada melhor do que o próprio Cristo a nos apresentar o caminho. Para início de conversa, creio que seja imprescindível uma tomada de posição bem concreta, da nossa parte, superando algumas das nossas concepções antigas e práticas muito arraigadas no que se refere ao amor, de modo geral:
1º) Precisamos tirar o amor da ótica meramente racional, do discurso, dos argumentos e da descrição poética.
O amor, definitivamente, não é uma declaração de amor, uma palavra bonita ou uma bela e comovente poesia que fale sobre ele. O que acontece, muitas vezes, é que a palavra acaba por ser um elemento substitutivo de uma realidade concreta que, infelizmente, não existe de verdade. É como se quiséssemos criar, somente pela força das nossas palavras, inúmeras vezes repetidas, a realidade de amor a que nos referimos. E isto não funciona, uma vez que a realidade da vida não coincide, automaticamente, com aquilo que pensamos, dizemos ou escrevemos sobre ela. Por isso, é bom que tenhamos sempre muito cuidado com as palavras de amor, tanto as que pronunciamos quanto as que ouvimos.
2º) Precisamos tirar o amor da ótica meramente sentimental, do mundo das emoções e das paixões.
Indiscutivelmente, é sempre muito prazeroso e arrebatador estar apaixonado e sentimentalmente envolvido por alguém ou por uma boa causa. Todavia, os sentimentos não permanecem para sempre, eles vão e vêm; são muito vulneráveis: o que sentimos hoje, podemos amanhã não mais sentir, pois, ontem já não sentíamos.
3º) Precisamos colocar o amor na ótica da ação concreta, do comportamento e da atitude prática.
Ou seja, o amor não é o que pensamos, dizemos ou sentimos sobre ele. É, antes de tudo, como nos comportamos. Depende de nós. É uma escolha concreta que fazemos, a partir de princípios e valores nos quais acreditamos, verdadeiramente, e não, a partir de sentimentos que mudam, mais cedo ou mais tarde. Deste modo, somos chamados a amar, apesar dos sentimentos e emoções e para muito além deles. Podemos até dizer que o amor é aquilo que fica quando o "amor" acaba; isto é, quando os sentimentos e a paixão inicial já não mais existem. Na verdade, é o compromisso que nos sustenta. Nesta perspectiva, o amor é um comportamento amoroso que influencia e determina o conjunto dos nossos pensamentos e sentimentos. Como dizia Santa Teresa de Ávila: "O amor é o que o amor faz".
Hoje, os especialistas no assunto não se cansam em afirmar que comportamentos geram sentimentos. Portanto, comportamentos positivos são sempre geradores de sentimentos positivos. Logo, segundo esta lógica, devemos procurar sempre fazer o que tem de ser feito, com sentimento ou não; agindo positivamente, de modo ético e correto e com base em princípios e valores nobres, mais ou menos permanentes. Se assim o fizermos, nobres sentimentos haverão de brotar e nos acompanhar; ou seja, nos tornaremos capazes de criar sentimentos até então inexistentes e de ativar outros já existentes, porém adormecidos em nós. Eis um desafio bom de se viver. Oxalá que assim seja!